Atingida por um incêndio no início da tarde desta segunda-feira (24), a Câmara Municipal de Salvador foi a primeira a ser construída no Brasil entre as capitais, em 1549 – mesmo ano da fundação da cidade.
Ao longo dos séculos, o imóvel passou por diversas mudanças, saindo de uma estrutura de taipa e palha dos primórdios para o modelo arquitetônico mais parecido com o atual, construído em 1696.
Nesse meio tempo, o local chegou a passar por modificações, incluindo uma reforma que alterou completamente o modelo, porém os processos foram revertidos no século 20, conforme pontuou o professor e historiador Jaime Nascimento, em entrevista ao g1.
“Esta feição de agora é uma restauração da década de 1970, porque, no final do século 19, houve a famosa reforma do arquiteto Francisco de Azevedo Monteiro Caminhoá, que fez uma reforma radical na Câmara e deu a ela feições neo-clássicas, inclusive com um relógio onde hoje está o sino”, disse.
As mudanças de Caminhoá datam da mesma época em que aconteceu uma disputa política e o Centro Histórico foi alvo de um bombardeio que atingiu a torre do prédio, onde ficava o antigo relógio da Câmara.
“O Forte de São Marcelo, o Forte de São Pedro e o Forte do Barbalho atiraram balas de canhão na direção da Praça Municipal, para atingir o Palácio Rio Branco. Então, várias casas daquela região foram atingidas, incluindo a Câmara”, apontou.
Sede dos três poderes
Postal de antes do bombardeio que mostra o relógio na Câmara — Foto: Reprodução
Postal de antes do bombardeio que mostra o relógio na Câmara — Foto: Reprodução
Ainda segundo o professor Jaime, o prédio da Câmara Municipal chegou a ser simultaneamente sede da Prefeitura, até que o Governo foi transferido para o Palácio Rio Branco.
Nessa época, conforme o especialista, a Praça Municipal fazia as vezes de Praça dos Três Poderes, que só foi inaugurada, com esse nome, em 1960. Localizada em Brasília (DF), a praça abriga os edifícios que sediam os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
“A Câmara tinha a função legislativa, porque não existia poder estadual. Existia só o Governador da Capitania. Então, o poder estadual era só ele. Além disso, tinha o municipal que era ao mesmo tempo legislativo e executivo, e a Câmara, que fazia os dois papéis, que era o do Senado o da Câmara. Ou seja fazia leis e fazia cumprir a lei. Do outro lado, onde está o Elevador Lacerda, existia o Tribunal da Relação, que era ligado à Coroa de Portugal e que aqui fazia justiça”, explicou.
Incêndio na Câmara
Câmara de Salvador é evecuada após incêndio
A Câmara foi esvaziada no início da tarde desta segunda, durante o incêndio. Segundo a assessoria da Casa, o fogo começou no ar condicionado do Salão Nobre, que fica no primeiro andar, onde acontecem as sessões, mas ainda não há informações sobre o que causou o fogo. Vídeos feitos por pessoas que passavam pela região mostram muita fumaça no prédio.
No final da tarde, o combate às chamas chegou a ser suspenso, após ação de 50 bombeiros militares com 14 viaturas. No entanto, por volta das 19h, o fogo retornou e os agentes voltaram a atuar.
Em nota, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) informou que, além do Salão Nobre, foram afetados também salas ao lado do cômodo. Todo o setor e a parte abaixo dele foram isolados, devido ao risco do sobrepeso da água usada para apagar o fogo e no rescaldo. [Assista abaixo]
Incêndio atinge Câmara Municipal de Salvador
O órgão notificou a administração da Câmara a realizar análises estruturais para a recuperação das partes atingidas com o acompanhamento de profissional habilitado.
O prédio de três pavimentos (subsolo, térreo e primeiro andar) é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O g1 entrou em contato com a instituição, mas não recebeu resposta até a atualização desta reportagem.
O imóvel fica próximo de diversos pontos turísticos da capital baiana, como o Elevador Lacerda, Cruz Caída e Pelourinho.
Com a interdição do local, as sessões da Câmara foram transferidas para o Centro de Cultura da Câmara, que funciona ao lado da Prefeitura de Salvador, a partir de terça-feira (25). A primeira sessão acontecerá às 14h30.
Alguns setores que funcionam no prédio serão realocados para outros espaços e alguns funcionários vão trabalhar em regime de home-office, pontuou a assessoria da Câmara Municipal.
Bombeiros atuam para combater chamas — Foto: Giana Mattiazzi/TV Bahia
Desastres no Centro Histórico
O incêndio aconteceu cerca de 20 dias depois do desabamento do teto da Igreja de São Francisco, mais conhecida como “igreja de ouro”, também localizada também no Centro Histórico da cidade.
O acidente deixou uma pessoa morta e outras cinco feridas. O local, que também é tombado pelo Iphan, fica a 500 metros de distância da Câmara Municipal.
Após o desabamento do teto, outras igrejas foram vistoriadas pelo Iphan e pela Defesa Civil e interditadas em Salvador. Muitas delas na mesma região.
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