A Lavagem do Bonfim, um dos maiores e mais tradicionais eventos religiosos da Bahia, acontece hoje, mais uma vez, atraindo milhares de baianos e turistas para a celebração que mistura fé, cultura e festa popular.
Realizada anualmente na cidade de Salvador, a festividade reúne fiéis e foliões para acompanhar a lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim, um dos maiores símbolos da crença na Bahia. Com o passar dos anos, a festa tem evoluído, incorporando novos elementos, mas sem perder a essência de sua origem religiosa.
Ao longo de sua história, a Lavagem do Bonfim tornou-se um evento multifacetado, em que a fé se mistura com a música, a dança e a alegria das ruas. Para muitas pessoas, como a baiana de acarajé Claudina Silva, a festa é uma verdadeira manifestação de devoção, mas também de resistência cultural.
“Faz uns três anos que não vou até o Bonfim, porque as pernas não estão mais fortes como antes. Agora eu coloco o grupo e deixo com eles. Vou até a Conceição, e depois volto para o memorial, mas não deixo de participar”, conta
Maria Luzia dos Santos, que nasceu nas proximidades da Igreja do Bonfim, conta com saudade das memórias que marcaram sua vida desde a infância. “Eu nasci atrás da Igreja do Bonfim, naquela ladeira. Desde pequena, eu tinha o pensamento de sempre ir à festa do Bonfim”, relembra Luzia, que cresceu acompanhando a festa de perto.
A baiana de acarajé, que participou da celebração por mais de 50 anos, recorda com carinho a época em que se vestia com traje típico e caminhava pela procissão. “Meu pai me vestia de baiana, com um saco de farinha, colocava um laço e flores do jardim, e me levava para a lavagem”, conta Luzia.
“Era um tempo bom, mas agora não consigo mais ir. Estou com 88 anos, as pernas não ajudam”, completa.
Luzia recorda o prazer de jogar “água de cheiro” pelas escadarias da Igreja do Bonfim, um dos momentos mais simbólicos da festa. “Era uma alegria, uma felicidade que não cabe em palavras. A gente sentia a energia daquela lavagem, a fé das pessoas que estavam ali”, diz.
A água de cheiro, que é jogada sobre os degraus da igreja, tem um significado profundo de purificação e devoção, simbolizando a renovação espiritual dos participantes. Luzia explica também sobre o encontro com outras baianas ao longo do caminho. “A gente se encontrava com as outras baianas, trocava aquele olhar de cumplicidade e dava um abraço, como se fosse uma grande família”. A TARDE