Completando 278 anos, a Lavagem do Bonfim, a maior festa religiosa da Bahia, retorna em 2023 com o tradicional cortejo saindo de Comércio em direção à Colina Sagrada, após dois anos de interrupção, devido ao protocolo sanitário imposto pela pandemia. Na quinta-feira (12), as atividades terão início às 6h, com a “Corrida Sagrada” e em seguida, às 7h, ocorrerá a saída da 8ª Caminhada “Lavagem de Corpo e Alma”, que deverá reunir 20 mil pessoas no percurso de 8 km.
Às 8h acontecerá a cerimônia religiosa, denominada “Ato de Fé”, celebrada pelo pároco da Basílica da Conceição da Praia, padre Everaldo Pires da Cruz, e encerrada com o Hino ao Senhor do Bonfim, entoado pelo coral da Basílica. A queima de fogos na Rampa do Mercado anunciará o início do cortejo, com a presença de baianas, autoridades, entidades culturais e população seguindo a pé até a Basílica Santuário Nosso Senhor do Bonfim.
Na Colina Sagrada, o reitor da Basílica do Bonfim, padre Edson Menezes, transmitirá uma mensagem da janela central da igreja, rezará com os fiéis uma oração pela paz e concederá a bênção, apresentando a imagem do Senhor do Bonfim ao público. Em seguida, haverá a lavagem do adro da igreja e o recolhimento de doações de gêneros alimentícios.
A programação religiosa traz como tema “Há 100 anos cantando Glória a Ti neste dia de glória”, em homenagem ao bicentenário do Dois de Julho – a Independência do Brasil na Bahia. “A expectativa é de grande participação de fiéis, uma vez que ficamos dois anos sem a festa. Além da lavagem, destaco a celebração, no último dia da novena (já em curso), da santa missa solene, a principal, que acontece no domingo (15), às 10h30, presidida por Dom Sérgio da Rocha, cardeal arcebispo metropolitano da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, que, em seguida, dará a bênção apostólica com indulgência plenária”, disse o pároco da Basílica do Bonfim.
Origem – Autor do livro “A Invenção da Tradição – Uma História sobre o Culto Festivo ao Senhor do Bonfim da Bahia”, o historiador Francisco Nunes explica que a celebração “nasce em Salvador com fórum de tradição, devido ao culto que já havia ao Senhor Bom Jesus do Bonfim em Portugal, como ele é conhecido naquele país. Essa história se relaciona com Theodózio Rodrigues de Faria, capitão de mar e guerra da marinha portuguesa, que trouxe a imagem do santo para Salvador, em 1745. Três anos antes, ele se livrou de um naufrágio com sua tripulação e aportou em Lisboa, fato que atribuiu à sua fé no santo”.
Nunes acrescenta que o culto ao Senhor do Bonfim é institucionalizado na hoje capital baiana, em 1754, quando sua imagem é trasladada da Igreja da Penha, onde ficou abrigada por nove anos, para a então recém-construída basílica do santo. “Embora já houvesse irmandade e missa ao Senhor do Bonfim, é só então que a lavagem ganha seus primeiros contornos e a devoção se amplia. No fim do século XVIII, surgem as baianas, um dos elementos mais emblemáticos da festa. As mulheres negras ligadas às casas mais antigas de candomblé participam do cortejo com roupa branca, de ração, chegando à colina para distribuir aos fiéis banhos com água de cheiro, com a qual elas lavam o adro da igreja”.
Fitinha – O historiador ainda explica que a famosa fitinha com a inscrição “Lembrança do Senhor do Bonfim” foi criada em 1809, por Manoel Antonio da Silva Servo, tesoureiro da irmandade devotada ao santo, com a finalidade de amealhar fundos para as obras da igreja. “O nome não era fitinha nem lembrança, mas medida. Porque tratava-se da medida que correspondia à distância entre a mão esquerda e o coração da imagem do santo. E só vinha escrito ‘Senhor do Bonfim’”, pontuou.
Foto: Valter Pontes/Secom