Há quase 17 anos, um jogo foi um golpe duro no Bahia, em um dos seus momentos mais delicados. Na Terceira Divisão nacional, o clube precisava vencer para continuar na briga pelo acesso. O adversário, o Ferroviário, até então nunca havia vencido o Tricolor. Mas o resultado foi como um pesadelo, difícil de esquecer: 7 a 2 para o time cearense.
“Lembro que acompanhei o jogo pelo rádio. Não acreditava no que estava acontecendo. Era um jogo com uma equipe que, apesar de ser muito tradicional no Ceará, uma terceira força, ninguém esperava que o Bahia sofresse uma goleada tão humilhante. Ali foi como uma pá de cal na possibilidade de acesso do Bahia e o escancaramento da situação, da crise do clube”, lembra Jayme Brandão, que na época era assessor de imprensa do Bahia, e continua no time, agora como supervisor geral de futebol.
Hoje, sua memória certamente será estimulada pelo reencontro entre Bahia e Ferroviário, às 20h30, na Arena Fonte Nova, pela segunda rodada da Copa do Nordeste. O histórico é positivo. De quatro partidas, o Bahia venceu duas, empatou uma e perdeu outra – a mais marcante de todas. “Nenhum torcedor, no pior dos pesadelos, imaginaria que isso poderia acontecer. Foi um jogo que me marcou muito e todos os funcionários também. Parecia que estava caminhando para acabar”, conta Jayme.
Na época, o repórter Paulo Simões, do A TARDE, foi até Fortaleza acompanhar o jogo e considerou inaceitável o que aconteceu em campo. Ele afirmou, contundente: “O Bahia vem se apequenando a olhos vistos, desde que se livrou do rebaixamento à Segunda Divisão em 2002. Finalmente caiu em 2003 e daí em diante seus mentores só fizeram vulgarizar o manto sagrado de um clube que finge ser o que não é”.
Na partida, o algoz foi um ex-tricolor. O atacante Sérgio Alves fez três gols e foi o grande nome do jogo. Ele atuou no Bahia em 2002, chegou a ser artilheiro, com 13 gols, e campeão da Copa do Nordeste. Mas, em pouco tempo, escolheu sair do clube, segundo o próprio, com dois salários atrasados. O que certamente apimentou o confronto na capital cearense.
Naquele mesmo ano do confronto histórico, o Bahia já havia vencido Ferroviário por 4 a 1, na Fonte Nova, na primeira fase da Série C. A equipe vinha bem na competição, chegou a liderar no início, mas depois começou a descer a ladeira até beirar o fundo do poço. “A gente ainda tinha um pouco de esperança de conseguir se recuperar. Mas os resultados negativos foram se acumulando”, pontua Jayme.
De 2006 para a fase atual, as mudanças no time são imensas. Qualquer analogia entre os dois momentos seria um anacronismo. Aquele ano representava o ápice de um processo de enfraquecimento do clube, problemas internos e estruturais, e falta de resultados em campo. De fato, o Bahia não subiu. A volta para a Segundona ocorreu apenas em 2007 e a subida para a Série A, em 2010. Atualmente, o clube tem uma das melhores estruturas do Nordeste, alta capacidade de investimento, sobretudo a partir da SAF com o Grupo City, e vem montando elenco forte.
Nesse ínterim, o Tricolor viveu altos e baixos, mas nunca chegou perto daquele 2006. Nos últimos anos, a estabilidade foi alcançada e agora busca voos mais altos.
Processo de evolução
“São momentos completamente distintos. Entrei no Bahia em 2006 e acompanhei todo o processo de evolução do clube para chegar nesse momento. Eram meses de salário atrasado, falta de estrutura, contratações ruins, fracassos em campo. E a gente vê hoje o clube com estrutura, centro de treinamento de excelência, com a SAF. E a gente trazendo atletas de nível internacional. Isso é muito gratificante. Me orgulho de ter participado de todo esse processo”, compara Jayme.
Vencer é fundamental no jogo de hoje para ocupar uma melhor posição no campeonato. O Bahia, na estreia do Nordestão, foi derrotado por 1 a 0 pelo Sampaio Corrêa. Para a partida, o técnico Renato Paiva não vai contar com o volante Rezende e o lateral Chávez, que ficaram fora do treino de ontem. Na lateral, o substituto será Ryan. No meio, o Bahia provavelmente vai entrar com Acevedo, Diego Rosa e Daniel. No ataque, deve seguir com o trio Biel, Kayky e Ricardo Goulart.
Para Jayme Brandão, a partida contra o Ferroviário certamente vai trazer as lembranças daquele momento para quem viveu. Porém, não se trata de um sentimento de revanche. “Não foi o Ferroviário que deu 7 a 2 no Bahia, o Bahia que tomou 7 a 2 do Ferroviário. A equipe estava fazendo o seu papel, jogando em casa, e aplicou a goleada”, comenta.
O que diferencia os dois jogos é o momento completamente distinto que o Tricolor vive hoje. E tem todas as condições de concretizar em triunfo essa evolução.
A tarde